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domingo, 28 de março de 2010

O Censo da Mata Atlântica

O lvro "Plantas da Floresta Atlântica" censou as espécies existentes até hoje
Marcelo Gigliotti, Jornal do Brasil - JB on line 25/03/2010

Quem mora no Rio de Janeiro convive com ela todo dia. Cobrindo os maciços, adornando o Corcovado, marcando presença e enchendo de vida toda a cidade. Porém, a Mata Atlântica, um dos ecossistemas mais ricos em biodiversidade do planeta, e uma dádiva para o carioca, perdeu 89% por cento de sua cobertura original. Mesmo no Rio, são poucos os remanescentes virgens desta riqueza, uma vez que boa parte dela, como a Floresta da Tijuca, foi devastada e depois reflorestada. Esta situação levou cerca de 200 cientistas de todo o país a se mobilizarem para sua preservação. E o primeiro passo foi dado com a elaboração de um censo das espécies vegetais, o livro Plantas da Floresta Atlântica.

No Rio de Janeiro há remanescentes de Floresta Atlântica original nas encostas entre o Jardim Botânico e a Vista Chinesa, no Maciço da Pedra Branca, na Área de Proteção Ambiental de Gericinó-Mendanha e na Ilha da Marambaia, segundo o pesquisador Marcus Nadruz, do Jardim Botânico, um dos autores do livro.

Nada menos do que 15.782 espécies vegetais foram catalogadas no livro, um trabalho pioneiro, que reuniu informações que estavam dispersas em diversas instituições científicas. Este volume de plantas representa 5% da flora mundial.
 – Um dos aspetos importantes deste levantamento é a constatação que 45% das espécies listadas (7.155) são endêmicas, isto é, só ocorrem na Mata Atlântica. Isto mostra a nossa responsabilidade com a própria humanidade em preservar este ecossistema – diz um dos editores do livro, o pesquisador João Renato Stehmann, da Universidade Federal de Minas Gerais, que junto com o Jardim Botânico do Rio produziu a obra.
Segundo ele, a Mata Atlântica é um dos cinco hotspots do mundo. O termo indica ecossistemas que concentram mais espécies endêmicas e que tiveram mais de 75% de sua área devastada.
– É um conceito que une biodiversidade, endemismo e ameaça de extinção – explica o pesquisador.

Os hotspots são considerados áreas prioritária para conservação, ecossistemas que precisam ser estudados o quanto antes pela sua fragilidade.
– Para esta preservação, há três etapas. A primeira é conhecer quais espécies ocorrem. A segunda é avaliar o estado de conservação e a quantidade delas. E a terceira é traçar metas para diminuir o grau de ameaça – diz o cientista.
E este esforço é uma corrida contra o tempo. A Mata Atlântica surpreende os próprios cientistas. A cada semana, uma nova espécie é descoberta. Além disso, determinadas espécies ocorrem em locais restritos. Ou seja, podem sumir com a ocupação urbana, ou com o desmate para outro fim, sem que sejam sequer conhecidas pela ciência.
Nesta luta pela natureza, há outras frentes de combate. Uma delas é fazer o governo federal declarar as espécies como ameaçadas de extinção. Com este status oficial, elas ficam sob proteção da lei.
– A comunidade científica tem feito pressão para que a lista de espécies ameaçadas seja ampliada. Hoje, oficialmente, há 238 espécies ameaçadas. Mas, para os cientistas, o número chega a 727. E o pior é que a lista oficial se baseia em dados de 2005. De lá para cá, 300 espécies foram descobertas – diz o pesquisador.

Com o livro Plantas da Floresta Atlântica, um calhamaço de 516 páginas, os cientistas esperam dar informações preciosas para os trabalhos de reflorestamento.
– A ciência pode orientar na produção de mudas; na escolha de espécies para reflorestamento adequadas para cada área; e também na indicação de locais para replantio – diz João Renato.

Se a Mata Atlântica, junto com o ser humano, vai superar estes desafios, só o tempo dirá. Segundo o pesquisador, áreas que já foram degradadas levarão pelo menos 300 anos para serem reconstituídas em sua plenitude. Espera-se que as futuras gerações colham estes frutos.

Brasil lidera desmatamento
Relatório de Avaliação Global de Recursos Florestais 2010, da Organização das Nações Unidas (ONU), divulgado quinta-feira, mostra que o Brasil, apesar de ter diminuído a área desmatada, continua em primeiro lugar no ranking do desmatamento no mundo.
Entre 1990 e 2000, houve uma redução significativa na perda de florestas brasileiras. Na última década, o país passou de 2,9 milhões de hectares anuais desmatados para 2,6 milhões nos anos 2000, segundo a ONU.
No mundo, nos últimos dez anos, 13 milhões de hectares anuais de florestas nativas foram transformadas em terras agrícolas ou destruídas por causas naturais, o que mostra uma redução em relação à década de 1990 quando foi registrada uma perda de 16 milhões de hectares.
A América do Sul e a África tiveram as maiores perdas anuais de áreas verdes no período entre 2000 e 2010, registrando 4 e 3,4 milhões de hectares, respectivamente. A Oceania também teve uma grande perda de florestas, mas por um motivo bem diferente, devido à grande seca que atinge a Austrália desde 2000.
Por outro lado, a Ásia ganhou 2,2 milhões de hectares ao ano na última década em função das ações de reflorestamentamento em grande escala na China, Índia e no Vietnã, aumentando sua superfície florestal em cerca de 4 milhões de hectares anuais nos últimos cinco anos.
Nos Estados Unidos e na América Central, a superfície florestal permaneceu estável. Na Europa, houve crescimento da área verde.
– Os países devem intensificar seus esforços para melhorar a conservação – disse o diretor-geral adjunto do departamento florestal da FAO, Eduardo Rojas. (Das agências)