Primeiramente lido no blog Vamos Mudar este País, então retirado do thread do Skyscrapecity sobre o Palácio Monroe, que editou texto e fotos encontrados no http://www.fotolog.net/tumminelli/, de Roberto Tumminelli, responsável pelos textos.
Enviado pela Guia Angêlica Monnerat que fez uma pequena adaptação.
PALACIO MONROE – 1904
Esta página aborda e mostra o famoso Palácio Monroe. Sua construção, sua vida e sua criminosa demolição. O epílogo da vida do Monroe será uma surpresa para muitos que desconhecem a verdadeira causa de sua demolição. Por isso peço que você acompanhe e divulgue a serie para seus amigos e conhecidos. Você verá como uma historia fantasiosa perdura por muitos anos entre os cariocas encobrindo um dos maiores crimes contra a historia do Rio e do Brasil. É só aguardar.
Vamos lá… A foto é de autoria de Augusto Malta, um alagoano, que após trocar sua bicicleta por uma máquina fotográfica, tornou-se alguns anos depois um dos principais fotógrafos da evolução urbana do Rio. Malta foi o autor de mais de 30 mil fotos. Registrou a grande mudança urbanística que o Rio de Janeiro sofreu durante o governo do Prefeito Pereira Passos entre outras fotos. Recebeu o cargo de fotografo municipal em junho de 1903.
Nessa foto podemos ver as conclusões da construção do Palácio Monroe, cercado de andaimes de madeira. O Monroe foi construído originalmente nos EUA pelo Governo do Brasil. Participava das comemorações do centenário de aniversario de integração do Estado de Louisiana nos EUA. Esse estado pertenceu à França até 1803. A sua construção causou impacto perante a todos os presentes à comemoração. A imprensa americana ressaltou seu estilo, suas linhas. Por fim foi merecedor do prêmio de melhor arquitetura da época, o Grande Prêmio Medalha de Ouro. Seu projetista foi o Coronel Arquiteto Francisco Marcelino de Souza Aguiar. Sua estrutura, toda metálica, permitiu seu desmonte para ser remontado em solo brasileiro. Foi erguido então no fim da Rua do Passeio onde havia um velho casario. Em estilo eclético, marcou pelo rompimento do uso da arquitetura portuguesa no Brasil.
A Avenida Central ainda em fase final de construção. Pode-se observar no canto inferior esquerdo uma nesga da nova calçada, em pedra portuguesa, com as ondas que vieram ser iguais a da Avenida Atlântica. Ao lado, os belos postes de iluminação publica. O Obelisco no fim da Avenida ainda não Havia sido feito e instalado.
Continuando a historia do Palácio Monroe, iniciada ontem, temos na foto ele já com a sua construção acabada. A escadaria de sua entrada que era virada para a, então, Avenida Central (atual Rio Branco). Infelizmente não podemos observar os famosos leões que haviam nela e que atualmente, se não me engano, estão numa residencia em Pernanbuco. Observa-se também os jardins do Monroe ao lado esquerdo da foto.
Entregue aos cariocas e ao Brasil em 1906 por ocasião da Terceira Conferencia Pan Americana que foi sediada nele. Sua reconstrução, depois da sua transferência dos EUA, começou em 1904. Durante a abertura da Conferência, o mestre de cerimônias, Barão do Rio Banco, batizou o, então, Pavilhão Brasil (lembre-se que ele foi construído para representar nosso país nos EUA), de Palácio Monroe, uma homenagem ao presidente norte americano James Monroe, idealizador do Pan Americanismo. Além dessa conferencia o Monroe foi palco de vários eventos, tais como, 4º Congresso Médico latino Americano, foi sede do Ministério da Viação, sediou o Congresso Internacional de Jurisconsultos entre outras coisas. Em 1925, foi transformado em sede do Senado Federal. Com a transferência da capital federal do Rio para Brasília, o Monroe passou a sediar o Estado Maior das Forças Armadas.
A nossa maquina do tempo pulou 40 anos e caímos agora em 1958. O presidente é Juscelino Kubsticheck, que estava no poder há dois anos.
O Rio de Janeiro ainda era Capital Federal, mas Brasília a essa altura era mais que um sonho. No ano seguinte ela começaria a ser construída.
O Monroe ainda abrigava o Senado Federal. Imponente, lá estava ele cercado de modernos prédios os quais podemos ver na foto. Um misto de poder com divertimento, Cinema Odeon (logo atrás do Monroe), Cine Império (demolido), Capitolio (demolido), O Bar Amarelinho, lá no Fundo o Teatro Municipal. Indo para a esquerda o Hotel Serrador, o Passeio Público e o prédio da Mesbla (o do relogio). O vazio atrás desse prédio será ocupado pela catedral de São Sebastião do Rio de Janeiro, o prédio da Petrobrás e do BNDES, muitos anos depois.
A quantidade de carros nas ruas do Rio já era uma preocupação… O Aterro do Flamengo viria a ser uma solução para desafogar o transito, mas ele só seria construído pelo Governador Carlos Lacerda na década de 60. Nessa época só existia a área onde está o MAM e o Monumento aos Mortos da 2ª Guerra. Os bondes disputavam com os ônibus o transporte dos cariocas. O Metrô era um sonho, mas em menos de 20 anos ele estaria nessa região (Estação Cinelândia)…
Em 1964 os militares deporiam João Goulart e iniciariam o período de uma terrível ditadura militar no Brasil. O Monroe duraria apenas mais 12 anos…
Aqui começa a ser analisado o processo de demolição do Palácio Monroe e uma historia que perdura por muitos anos vai ser aqui jogada por terra…
O sonho de haver um sistema metroviário no Rio é antigo, porém só em 1966 é que se abriu uma frente de estudos para a inicialização da viabilidade das obras. A Companhia do Metropolitano do Rio de Janeiro então foi criada em 1968. O primeiro canteiro de obras se deu na Gloria em 1970, mas as obras ficaram paralisadas entre 1971 e 1974. Em 1975 as obras foram retomadas e seguiram em direção ao Centro da Cidade. A estação seguinte a da Gloria seria a Estação Cinelândia. No meio do traçado dos trilhos estava o Palácio Monroe. O que fazer? O intuito do Metrô sempre foi preservar prédios de importância histórica que estivessem próximos ao traçado dos trilhos, como o Teatro Municipal e a Câmara de Vereadores, mas o Monroe estava bem no meio do traçado. A solução foi fazer uma modificação no traçado original da linha. Um desvio que passaria ao lado do Monroe, para que fosse poupada a sua demolição.
Decidida essa etapa e estudada a obra, pôs-se em pratica a construção do desvio. Por causa do terreno e da proximidade das fundações do Monroe foi empregada uma moderna tecnologia para que tudo corresse bem. O escoramento do terreno foi feito com cuidado para que não houvesse perigo dele ceder e por em risco o Monroe. As fundações do Palácio eram verificadas duas vezes ao dia.
As obras continuavam e o tombamento do Monroe (pedido em 1970) não saía. No entando continuava uma batalha para a sua preservação.
A escadaria de mármore da entrada do Palácio foi desmontada por uma equipe de técnicos vinda especialmente da Itália. A retirada da escada era necessária, pois coincidia com as paredes da vala a ser aberta. A escadaria foi desmontada cuidadosamente e guardada no interior do Palácio.
A escavação da vala, colocação das contenções necessárias, entre outras medidas, resultaram no sucesso da operação e no final o Palácio não havia sido abalado em nada. A feitura de tal empreitada e seu sucesso foram alvo de matérias em revistas especializadas.
Da parte do Metrô o Monroe estava salvo. No entanto, aproveitando-se da sua obra, o então Presidente da Republica Ernesto Geisel, autorizou o Patrimônio da União a providenciar sua demolição em 1976.
A obra, os esforços, então haviam sido em vão, para a frustração e tristeza daqueles que preservaram o Monroe e que tiveram um exaustivo trabalho que foi completamente ignorado e também para a tristeza de muitos cariocas que viram ruir um pedaço da historia da cidade e da historia do Brasil. Trabalho esse que é ignorado por muitos cariocas e inclusive jornalistas, que no mínimo deveriam ter a obrigação de saber que o Monroe foi poupado pelo progresso, mas que continuam insistindo em publicar a historia que o Metrô foi o culpado pela demolição do Palácio.
Então toda vez que você estiver chegando ou saindo da Estação Cinelândia (em direção à Zona Sul) preste atenção na ligeira curva que o trem faz e lembre-se dessa frase publicada num manifesto contra a demolição:
“… restará aos usuários do Metrô perceberem que, onde foi o Monroe, haverá uma misteriosa curva…”.
PALACIO MONROE – 1975 II
Enquanto o Metrô desviava o trajeto da linha para poupar o Palácio Monroe de sua demolição, três figuras muito conhecidas dos brasileiros pediam ferrenhamente a sua demolição. Eis seus nomes:
- GENERAL ERNESTO GEISEL: Quarto presidente militar desde o Golpe de 64. Empossado pelo Colégio Eleitoral em 1974. Nutria um ferrenho horror pelo filho do Coronel Arquiteto Francisco Marcelino de Souza Aguiar, projetista do Palácio Monroe, . A raiva que Geisel sentia dele foi originada quando o filho de Souza Aguiar foi promovido no Exercito em detrimento de Geisel. Por puro ódio e vingança, Geisel aproveitou seu poder de Presidente da Republica e simplesmente autorizou a demolição do Monroe, acabando com o premiado projeto do pai de seu inimigo.
- ROBERTO MARINHO: Jornalista. Chefe das Organizações Globo. É de conhecimento público o apoio dado por Marinho aos militares desde a época do Golpe. Aproveitando a grande circulação do Jornal O Globo, fez uma enorme campanha a favor da demolição do Monroe aproveiotando-se da obra do Metrô. Quase que diariamente O Globo publicava editoriais exigindo o desaparecimento do Palácio. Fica claro que esse apoio aos militares visava sempre ter os beneficios que o governo federal podia proporcionar. No ultimo editorial publicado pelo Globo podia-se ler as seguintes palavras:
“Por decisão do Presidente da Republica, o Patrimônio da União já está autorizado a providenciar a demolição do Palácio Monroe. Foi, portanto, vitoriosa a campanha desse jornal que há muito se empenhava no desaparecimento do monstrengo arquitetônico da Cinelândia. (…) O Monroe não tinha qualquer função e sua sobrevivência era condenada por todas as regras de urbanismo e de estética. Em seu lugar o Rio ganhará mais uma praça. Que essa boa noticia, que coincide com o fim das obras de superfície do metrô da Cinelândia seja mais um estimulo à remodelação de toda essa área de presença tão marcante na historia do Rio de Janeiro”. - LUCIO COSTA: Arquiteto. Defendia também a demolição do Monroe. Com qual intuito? O de dar chance à arquitetura brasileira moderna? Ou ser mais um agraciado pelo Governo Federal quando fosse preciso? Costa chegou ao cúmulo de passar abaixo-assinados em associações de arquitetos para endossar a demolição do Monroe. Foi mal visto na época por seus colegas que nunca o perdoaram por esse gesto criminoso.
Do lado oposto à demolição estavam arquitetos, o CREA, o Jornal do Brasil, o Juiz Federal Dr. Evandro Gueiros Leite (que sugeriu que o Monroe sediasse o Tribunal Federal de Recursos, que estava sem sede), o Serviço Nacional do Teatro, a Fundação Estadual dos Museus, a Secretaria Estadual de Educação, e várias outros entidades importantes e principalmente o povo carioca. Em vão…
Portanto, essas três figuras pisotearam e riram dos apelos de todos e foram os principais responsáveis pelo desaparecimento de um importante pedaço de nossa historia.
A foto mostra parte do desvio feito no traçado já junto à Praça Floriano.
PALACIO MONROE 1976
Depois de aprovada com o aval oficial do Presidente General Ernesto Geisel, a demolição do premiado Palácio começou entre janeiro e março de 1976.
O valioso prédio começou a sucumbir. Aos poucos um importante pedaço da historia de nosso país começava a virar pó, pedra e escombros.
A empresa que foi contratada para demolir o Monroe pagou apenas CR$ 191 Mil (cento e noventa e um mil cruzeiros) com direito de venda de todo o material. Com a venda do bronze e ferro do Monroe ela faturou nada menos que CR$ 9 Milhões. Tudo foi vendido… Vitrais, lustres de cristal, pinturas valiosas, estatuas de mármore de carrara e bronze, moveis em jacarandá a balaustrada de mármore (como a que foi leiloada no dia 19 desse mês e tive a oportunidade de ver e fotografar). Havia uma escada de ferro em caracol que foi vendida pela pechincha de CR$ 5, 00 (cinco cruzeiros), o metro. Sem contar muitas outras peças. Grande parte do piso, com mais de 2000 metros quadrados , foram para o Japão. Tudo por causa do tipo de madeira: peroba do campo. Seis dos dezoito anjos de bronze foram parar na fazenda de Luiz Carlos Branco em Uberaba, além de alguns balcões de mármore e vitrais. Os leões que ficavam na escadaria na entrada do Monroe hoje estão no Instituto Ricardo Brennand em Recife, Pernambuco.
E esse foi o triste fim do Palácio Monroe. Destruído única e exclusivamente pelo sentimento de ódio e vingança de um homem, apoiado pela mídia mafiosa e manipuladora e pela idéia tresloucada de que o Monroe devia desaparecer por não ser um representante da arquitetura brasileira. O respeito pela historia de um país, pelo esforço de quem o projetou, do suor dos operários que o constrruiram e pelos apelos de inúmeras pessoas sensatas não foi sequer considerado. Três homens puderam, pelo poder (mesmo que temporário), pisotear tudo e todos. O que resta agora são fotos, memórias, lembranças e lágrimas.
PALACIO MONROE – 1976
Terminada a demolição o terreno ficou vazio. As obras da Estação Cinelândia do Metrô continuavam. A partir daí o Metrô tornou-se, erroneamente, o grande vilão de toda essa historia. E até hoje grande parte dos cariocas atribuem a ele a demolição do Monroe. Cabe a nós fazer um trabalho de formiga e divulgar entre todos que conhecemos a verdadeira historia do fim do Palacio Monroe.
Os algozes do Monroe ficaram felizes e com certeza dormiram tranqüilamente pouco se importando com o ocorrido e com as pessoas que tentavam salvar o Palacio.
O Monroe não existia mais. Em seu lugar surgiu uma praça.
Nela hoje está um belo chafariz que foi originalmente posto na Praça XV. Depois passou para a Praça Onze, Praça da Bandeira e terminou no lugar do Monroe pouco tempo depois da sua demolição. Chafariz belíssimo comprado na Áustria pelo Governo Imperial em 1878. Em homenagem ao Palacio é chamado de Chafariz do Monroe.
Em 2002, durante a construção do estacionamento subterrâneo que se localiza debaixo da praça onde ele ficava os operários encontraram uma caixa metálica contendo vários objetos relativos à construção do Monroe, entre esses objetos estavam uma pedra do Palácio e uma edição espacial do Jornal do Brasil. Esse material foi entregue à Biblioteca Nacional e parece que hoje está em poder da Secretaria Municipal das Culturas. Repetindo o que escrevi… O que fica agora são fotos, memórias, lembranças e lágrimas.
Podemos ver o traçado em curva do metrô contornando do palácio Monroe .
O metrô fez uma curva de alta complexidade, colocou equipes dedicadas exclusivamente para zelar pela estabilidade do prédio, sendo seus pinos conferidos pelo menos duas vezes ao dia .
Frases de uma de uma engenheira do Metrô:
“Espero que todo o Carioca que passar pelo lugar e sentir uma leve curva, se lembre de todo nosso esforço para fazê-la e de nossa frustração por ter sido em vão” (sic)
Aqui termina essa serie sobre o Palácio Monroe. Agradeço especialmente a Mario Carlos Silva Lopes da Assessoria de Comunicação da RIOTRILHOS. Sem ele essa serie não estaria completa.
Dedico esse trabalho à memória do Coronel Engenheiro Francisco Marcelino de Souza Aguiar.
Roberto Tumminelli
Um comentário:
Meu caro, apesar de não ter qualquer apreço pelo Monroe arquitetonicamente ou historicamente, pois esse palacio faz parte dos delirios de grandeza da republica dos mediocres que a criaram, eu comungo com seu desafeto de ver um bem nacional destruido pela penada de poderosos que nunca souberam colocar o bem estar do Brasil acima de suas frustrações e sanhas de mando. Só mesmo um imperador era capaz de faze-lo, pois ao inves de usar o poder da pena, sentia o peso dela nos ombros e a responsabilidade de ser obrigado a usa-la.
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