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segunda-feira, 13 de julho de 2009

CONHEÇA MAIS A LAURINDA, PARTE DA HISTÓRIA DE SANTA TERESA

LAURINDA SANTOS LOBO

Nasce em Cuiabá aos 4 de maio de 1878. Órfã de pai, a figura paterna da menina seria o tio Francisco Murtinho, quem sustentava a irmã, mãe de Laurinda. Se fala que teve criação em Paris, mas não foi provado. Aos 16 anos vai morar a Santa Teresa. Ao morrer Joaquim Murtinho e, 1911, Laurinda abre seu salão no palacete Murtinho, e herda a companhia Mate-Laranjeira. Era considerada pela sociedade como uma mulher muito elegante, como “uma verdadeira parisiense de Saint-Germaine”. Foi chamada “A Marechala da Elegância”. Mas.. algumas contemporâneas não pensavam o mesmo, dizendo que ela “pecava pelo excesso, com certa falta de gosto ou de discrição. Os vestidos de Paris, podiam encaixar bem nos encontros no salão, mas ás vezes eram mais apropriados aos palcos”. Mas ninguém podia negar que era mulher de sucesso mundano no Rio de Janeiro. Laurinda morre em 1946, e morre com ela uma época onde ela foi protagonista

Curiosidades
Ela viajava com a mão, o motorista e um cachorrinho. Usava três Chryslers: 8665, 3328 e 3595, quando em Santa Teresa ninguém tinha carro. Mas ela andava também de bonde.

Organizava bailes, encontros “intelectuais” com músicos, poetas, e ajudava a muitos deles. Seu aniversário era todo um evento em santa Teresa. Dois presidentes participavam dos encontros: Nilo Peçanha e Epitácio Pessoa.

A poeta e declamadora Margarida Lopes de Almeida participava no salão de Laurinda, e foi a mulher, que segundo alguns historiadores, imortalizou suas mãos quando assistiu o escultor do Cristo Redentor Maximilien Paul Landowsky, quem copiou estas para o Cristo.

Ela tinha apartamento em Paris, 9 Place de la Madeleine, e passava dois meses entre Outubro e Abril, e continuava o Salão em França, recebendo brasileiros e franceses.
O Salão de Laurinda foi durante a década de 20 um ponto de encontro do Modernismo. Ela deu lugar a pessoas consideradas pela alta sociedade de “vulgares”, e é lembrado o momento quando Silvio Caldas tocou violão, para alguns, um escândalo.

Villa-lobos foi um dos protegidos dos anos 1920. Laurinda foi quem levantou a verba que permitiu projetar o músico na capital francesa, em 1924

Ela não era tão cultivada em arte, mas vibrava com o que ela gostava. Assim foi com o quadro O Ovo de Trasila de Amaral. Ela perguntou: Mas eu quero que você me explique, eu gosto de entender; eu sou zebra em questões de pintura moderna. Eu só entendo assim aquilo que é muito óbvio. O que quer dizer esse pauzinho, essa cobrinha, o ovo de cabeça para baixo? – Ah! Dona Laurinda... eu primeiro pintei o pauzinho, ficou muito vazio, ai eu pintei a cobrinha subindo pelo pau, ainda estava vazio. Ai eu pintei o ovo.... – Mas o que quer dizer? – Nada... Ela não falou nada, e comprou um quadro que ela achou mais decorativo.

O marido de Laurinda, Hermenegildo, era uma imagem ofuscada pelo brilho da mulher. Sempre foi reduzido ao estereotipo de marido traído. Mas, na realidade, o casamento “aberto” dos Santos Lobo hoje talvez não despertasse tanto escândalo. Hermenegildo morre em 1941.

Laurinda herdou do tio o amor pelos cães. Ela cuida os cachorros do tio depois da morte deste, e terá seus próprios animais de estimação. Foram conhecidas duas cachorrinhas típicas de madame, Pupée e Chinita.

Durante a guerra o salão teve muitos menos encontros, e ela se dedicou mais aos negócios, ajudada pelo marido. Mas depois da morte deste ela assume por uns meses, mas logo entrega para um sobrinho, Amauri Santos Lobo, ela dizia “Eu não agüento, todo com hora marcada de chegar!”.

Ao morrer Laurinda continua na casa a mãe, Leonor, e o marido desta Francisco Guimarçaes. A mãe da Laurinda, morre com 92 anos (1960), e Francisco no ano seguinte.Antes de sua morte começa o surpreendente processo do espólio de dona Laurinda; A posse da mansão só será concedida ao Instituto Hahnemanniano em 1965. Durante oito anos a casa ficou abandonada. Como não havia vigia, a casa foi arrombada e os saques começaram. Até de caminhão levaram os móveis! Depois foi ocupada por “uma comunidade de baixa renda” e nos anos ´80 pelo narcotráfico. Em 1979 a prefeitura do Rio assina o decreto de desapropriação da casa, e a implantação de um parque público. Em 1993 se oficializa o Parque das Ruínas

Fonte: Laurinda Santos Lobo, mecenas, artistas e outros marginais em Santa Teresa. Hilda machado – Casa da Palavra, 2002.


Centro Cultural Laurinda Santos Lobo


Este centro cultural foi ativado em 1979, numa admirável casa do bairro. Possui uma sala de vídeo, três salas de exposições, auditório e um acervo fotográfico referente a Laurinda Santos Lobo. Laurinda foi uma mulher especial, que deu a Santa Teresa vida e graça no início do século passado com seus saraus, onde prontificavam expoentes da vida cultural internacional como, por exemplo, Villa-Lobos e Isadora Duncan.
Rua Monte Alegre, 306.2242-9741 De terça a sexta, das 10h às 18h e sábado e domingo, das 14h às 18h.

GERARDO MILLONE
PESQUISA


2009