25/03/10 - BOM DIA BRASIL
No pátio dos canhões no Museu Histórico Nacional, ele se destaca. É uma arma de guerra de 12 toneladas. É "El cristiano". Em português, o cristão. O nome vem do material usado para fabricá-lo: o metal dos sinos das igrejas de Assunção, a capital paraguaia.
Foi a matéria-prima que nosso vizinho encontrou para tentar compensar a falta de armamento pesado no conflito que ficou conhecido como a Guerra do Paraguai. Entre 1864 e 1870, o país enfrentou sozinho Brasil, Argentina e Uruguai.
Segundo historiadores, durante dois anos o canhão ajudou a conter o avanço das tropas brasileiras sobre a capital paraguaia. Para entender por que, basta olhar a placa de aço de 10 centímetros de espessura que fazia parte de um dos navios da nossa Marinha. Ficaram algumas marcas do poder de fogo de “El cristiano”.
O canhão acabou sendo tomado por soldados numa batalha que foi decisiva na derrota paraguaia. Virou troféu de guerra, exposto no Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro. E 140 anos depois do fim do conflito, “El cristiano” volta ao centro de uma nova batalha.
Depois de um pedido do governo paraguaio, o Brasil pode devolver o canhão aos verdadeiros donos. Historiadores e técnicos do próprio museu alegam que a peça faz parte de um acervo tombado e que mandá-lo de volta é uma afronta à memória de quem lutou na guerra. “Nenhum país devolve seus troféus de guerra. Foi o sangue dos brasileiros que o cimentou no solo”, diz o historiador Milton Teixeira.
“Não resta dúvida que é um troféu de guerra. Se devemos manter troféus de guerra entre nações amigas, deve ser discutido”, aponta Carlos Fernando Andrade, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
O Paraguai também quer a devolução de outros troféus, como arquivos militares do país que estão no Brasil. Será que tantos conflitos de interesses vão deixar os envolvidos em pé de guerra?
Apesar dos protestos de técnicos e historiadores, o Ministério da Cultura confirmou que o "El cristiano" será devolvido para o Paraguai, mas ainda não há data para a devolução. O governo estuda uma forma legal de fazer essa transferência, já que é necessário o destombamento do canhão, que só pode ser feito pelo próprio presidente Lula. Até lá ainda deve ter muita discussão.
Enviado pela Guia Marcia Silveira.