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sexta-feira, 19 de março de 2010

LIVRO: "O Brasil de Gabriel Soares de Sousa e outras viagens".

Enviado pela Guia Marion Alberti via e-mail

Ensaio estuda textos do descobrimento do Brasil

Valdomiro Santana, Jornal do Brasil
RIO - Susto, espanto, maravilha. Com esses três signos que se ligam por parentesco e analogia, cada um se referindo aos outros, a literatura de viagens, uma das formas de saber da cultura ocidental até o fim do século 19, é o foco de "O Brasil de Gabriel Soares de Sousa e outras viagens, de Francisco Ferreira de Lima".
Três textos são estudados: o “Tratado descritivo do Brasil (1587)” de Gabriel Soares de Sousa – um impressionante levantamento de dados geográficos, botânicos, zoológicos, etnográficos e linguísticos – que é objeto de seis ensaios; a “Carta a el-rei dom Manuel sobre o achamento do Brasil (1500)” de Pero Vaz de Caminha, e a “História da província de Santa Cruz a que vulgarmente chamamos Brasil (1576)” de Pero de Magalhães Gândavo.
Ferreira de Lima, pós-doutor em literatura pela Universidade de Londres, também é autor de O outro livro das maravilhas: a peregrinação de Fernão Mendes Pinto (Relume Dumará, 1998). O Brasil de Gabriel Soares de Sousa é leitura que, sem o peso do aparato universitário, prende, faz pensar. Isto se deve ao fato de ser o autor um estilista. E com toques do mais fino humor. Daí, a sensação que é perceber — e fruir — o tecido da escrita de cada um dos oito ensaios e o modo como dialogam e se iluminam.
O autor apresenta e destrincha o que chama de “retórica da sedução”, a estratégia usada por Gabriel Soares de Sousa para obter do rei Felipe II o apoio a uma viagem de mais de 100 léguas pelo sertão da Bahia até as nascentes do São Francisco, em busca de uma lagoa onde se acreditava existir ouro em abundância e a céu aberto.
Uma das linhas de força do livro é o exame do que escreveram Caminha e Gândavo sobre o Brasil, na perspectiva — e tão-somente — dos interesses coloniais do Império português, e do que registrou Soares de Sousa no “Tratado”, quando Portugal já estava, a partir de 1580 (até 1640), sob o domínio espanhol.
Estudo comparativamente hilariante é o do quinto ensaio, “A voz do outro: a diferença da linguagem, a linguagem da diferença”, em que entram a farsa de um romance de Umberto Eco, Baudolino, ambientado na Idade Média, e as viagens de Caminha, Fernão Mendes Pinto e Soares de Sousa, o “foneticista pioneiro” do Brasil.
Um livro que se recomenda não apenas à atenção de professores e alunos das áreas de letras e ciências sociais e humanas, mas de todos aqueles que, no país, continuam se perguntando por que aqui, após 500 anos de processo civilizatório, o espetáculo ainda é bárbaro, donde o deslumbramento, o pasmo e o assombro de todo dia.
Resposta a pedido: Editora 7 letras / Preço Livraria Saraiva R$ 34,00

Um comentário:

Anônimo disse...

Uma boa sugestãoporém não cita a Editora e seria legal dar o preço que foi comprado para que o interessado saiba aproximadamente o custo.